sábado, 4 de abril de 2009

Que Brasil é esse?


Dariane, 16 anos. Grávida do segundo filho, vestida com a camisa do Brasil. Esse é o triste retrato de quem não tem sequer noção dos seus direitos. Ela está na rua, cercada de prédios públicos: antigo Palácio do Governo, antigo gabinete do prefeito, hoje uma secretaria municipal. A conheci em 2003 - quando trabalhava no O Jornal - numa inaceitável situação. Fiquei estarrecida com a sua história.

À época, ela tinha apenas 10 anos. Estava com a amiga Rebeca que havia sido espetada por meninos de rua com quem disputavam um lugar na Praça Floriano Peixoto, a conhecida Praça dos Martírios, reduto de pobres crianças cheira-cola, no Centro de Maceió. Dariane é vítima da falta de estrutura familiar. Juntamente com as irmãs era ofertada a homens velhos, porém imaturos e por que não dizer sem Deus e caráter, que as utilizavam como objetos para o depósito dos seus espermatozóides por apenas R$ 10,00. Ela era uma criança indefesa.

Uma de suas irmãs - que também fugiu de casa - morreu com Aids aos 15 anos. Passou pelo Catarse, mas apesar do apoio não sobreviveu. Ela e Rebeca estão na praça há seis anos e ninguém viu? Para que servem mesmo as secretarias de Assistência Social? Cadê as casas de passagem? Quem poderia interceder para evitar que estas meninas, sem a menor condição de higiene e sobrevivendo em condição subumana, fossem mães pelo menos pela segunda vez?

Rebeca fez 17 anos e tem três filhos. A sensação ao revê-las foi dupla. Na primeira fiquei feliz porque tive a convicção de que estavam vivas. Mas, a outra me deixou pior do que há seis anos atrás. Porém, dentro do seu mundinho um tanto ingênuo e de identidade perdida, Dari- como se apresenta- está feliz e ansiosa pela chegada do Gabriel Ferreira dos Santos, o segundo bebê. Diz ela que sabe o sexo porque o esposo - também cheira-cola- pagou uma ultrassonografia na Casa de Saúde Paulo Neto. Pelo menos isso. E o resto? O que terá Gabriel para comer? Cola em lugar do leite?

Em 2003, Dariana ao me reencontrar na praça, onde fazia matéria de carnaval com a amiga jornalista Ester Carvalho, pediu para que fôssemos fotografadas juntas. As lágrimas apareceram rapidamente nos meus olhos quando falou: "tia, tira uma foto comigo porque se me matarem você fica de lembrança".

Na semana passada ela me reconheceu e perguntou pela foto. Pediu que trouxesse para rever. E tornou a fazer o mesmo pedido. Será que daqui a seis anos nos reencontraremos? Onde estará Dariana em 2015?

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